terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O Espírito Natalino

Olá a todos, por milagre eu voltei, um milagre natalino. Venho lhes trazer o que eu considero o verdadeiro Espírito Natalino, inspirado em amigos e principalmente nas minhas conversas com Thiago Mattar.

Espero que gostem,

Beijos e abraços
Da Autora.

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As luzes de natal apagavam e acendiam. Eu tentava fumar um cigarro na janela da cozinha quando eu perdi totalmente a concentração com aquelas luzes. O mais estranho é que já estávamos em janeiro, metade de janeiro, e aquelas luzes ainda não tinham saído. Aquilo me deixava não só irritado como deprimido.

Será que o tempo tinha passado tão rápido e já estávamos em dezembro de novo? Eu sei que isso seria impossível, mas era exatamente essa idéia que me passava pela cabeça quando via aquelas luzes piscando, aquelas árvores de natal falsificadas nas janelas dos apartamentos vizinhos.

Eu nunca entendi porque usamos pinheiros no Brasil no natal, aqui nosso natal é quente e sem neve, a coisa mais parecida com neve que temos é a chuva de verão. Mesmo assim em cada lugar que vemos, pinheiros com cores natalinas e com neves artificiais. Eu preferia ter uma palmeira como enfeite de fitinhas do Senhor do Bonfim em minha casa, se fosse assim.

Não é por menos que o índice de suicídio nas festividades de fim de ano aumentam. É realmente deprimente e exaustivo. Quem nunca decorou o Ave Maria, como é o meu caso, sofre nessas épocas. Naquele momento quando bate a meia noite e você não comeu nada desde a uma da tarde e ainda assim, nessa meia noite você é obrigado a fazer uma roda de mãos dadas e rezar o Pai Nosso e o Ave Maria quando tudo que você pensa é como aquele peru está suculento e como você está morto de fome e provavelmente bêbado depois de tanta bebidinha para socializar que você tomou com o estômago vazio. E ainda te obrigam a abraçar as pessoas que até ontem estavam te mandando a merda.

As duas únicas coisas que me veem a cabeça quando penso em natal são: 25 de Março e transito. Talvez porque sejam as duas coisas que mais eu veja nos noticiários da TV quando estou em casa, é só você ligar a TV e aparece aquela rua parecendo um formigueiro, pessoas com sacolas enormes, suados e se trombando, depois imagens que sobrevoam o caminho para as estradas que levam a praia mais próxima, agora são formiguinhas com carrinhos de brinquedo, parados durante horas, sabendo que só vão conseguir colocar os pés em uma praia daqui umas 12 horas. O mais irônico é eu estar sozinho em casa nesse momento, sem ninguém me trombando, vendo tv e incrivelmente entediado.

Quando resolvo sair de casa me sinto pior, entro em um shopping e a primeira coisa que escuto são crianças gritando para ver um velho com barba de algodão e uma roupa vermelha que deve estar o fritando por dentro. Penso mais uma vez naquele suor da 25 de Março, aquele cara vestido de Papai Noel deve estar sentido a mesma coisa e deve ser ainda pior quando ele chega em casa cansado de abraçar crianças, perguntar se elas foram boas com seus pais e falar "ho ho ho" e ai escuta sua mulher lhe perguntar: "Você vai se vestir de Papai Noel para meus sobrinhos no natal, não vai?".O pior é que ela ainda reclamava quando ele levava trabalho para casa.

Eu sempre quis saber qual era a sensação de passar um natal em casa, comendo miojo e tomando uma cerveja sozinho, no máximo com uma pessoa ao meu lado, vendo algum filme que não envolva o Espírito Natalino, porque, no final, vai ser mesmo um dia qualquer. A diferença é que após a meia noite e após as orações e abraços desnecessários, eu voltava cinco quilos mais gordo com a comida de natal.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Aniversário

Há algo que eu sempre disse sobre a felicidade, eu imaginava que uma pessoa realmente feliz é aquela que olha para trás e sorri lembrando de cada coisa que viveu, hoje eu fiz outra coisa, além de olhar para trás, eu olhei para frente e sorri, não importando quantas coisas já me fizeram chorar ou me fizeram sofrer, ou como minha infância foi feliz e como eu tenho história para contar, mas como o momento que vivi no agora fez parte fundamental de minha vida.

Aniversário muitas vezes não parece bom, porque significa que você está ficando mais velho e perdendo as diversões que tinha quando jovem, ou que as responsabilidades vão aumentando, ou então a parte chata de receber telefonemas daquelas pessoas que nunca se lembram de você o ano todo e que só conversam com você por cinco minutos nessa data e no natal. Mas hoje eu nem me importei.

As pessoas que eu amo estavam presentes e eu me senti como se estivesse naqueles filmes clichês hollywoodianos, onde a família está toda reunida, todos sorrindo e conversando, rindo horrores falando de bobagens que nunca costumam falar, e foi tudo isso. Muitas pessoas têm o costume de se nomearem pessoas “família”, aquelas que se dizem caseiras, que amam ficar em casa com suas famílias, algumas dessas pessoas falam isso simplesmente da boca pra fora, mas eu acho que sou diferente, porque eu estar lá, com meus pais, minhas primas, meu irmão, minha tia e principalmente minha avó, foi o maior presente que eu poderia receber esse ano.

Eu via tudo em slow motion, cada ato e cada conversa, cada lembrança besta que tivemos juntos, cada palavra idiota que eu falei, tudo. E não é só isso, eu me senti tão inteiramente feliz que comecei a pensar que todos os planos que fiz em minha vida podem esperar alguns minutos, todas as responsabilidades, trabalhos e coisas chatas, naquele minuto podiam desaparecer.

Ninguém sabe o que é receber o mundo coberto de chantili e cheio de cerejas de seu melhor amigo, o que é escutar de sua família a sinceridade de que eles se orgulham de mim, o que é abraçá-los e se sentir totalmente completa. É assim que me sinto agora.

Depois de tantos aniversários, 18 para ser exata, esse décimo nono aniversário foi o melhor de minha vida, e eu agradeço muito, agradeço a minha família, aos meus amigos, ao meu querido Thiago M. Mattar, aquele que em pouco tempo se tornou o amigo que eu mais admiro e respeito, aquele que fez esse dia e o dia anterior a ele os melhores de minha vida e que torna todos os dias que estou ao lado dele, um dia especial. Muitas pessoas não entendem essa amizade, mas eu acho que é porque nunca tiveram uma amizade pura como eu tive a honra de ter, não sabem o que é conversar sobre filmes que gostamos e termos as mesmas cenas favoritas, ou aprender um com o outro e nem ao menos ser um amor físico, e sim totalmente sentimental.

Eu acho que hoje eu finalmente posso ter certeza quando digo que estou completa, eu ainda tenho meus planos e coisas que quero fazer, coisas que quero descobrir, mas meu coração está completo, com todas as pessoas que amo e admiro, todas as pessoas que me encantam. Obrigada, por fim eu digo, por essas poucas e especiais pessoas, obrigada por estarem comigo e obrigada por me fazerem chorar de felicidade enquanto escrevo isso. Hoje eu tive o mundo “com calda de chocolate e uma cereja encima”.

Abraços de
Juliana A. M. Monteiro

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Garota Metamorfose

O grande problema de escrever e imaginar um título na minha opinião, acabei de terminar uma história e não faço idéia o que escrever como título, até corrigir os erros de português (que por incrível que pareça, mesmo sendo quase jornalista e quase escritora, são muitos) eu penso num título bom.

Eu vou tentar não demorar muito nas postagens agora, prometo que vou me esforçar!

Beijos e abraços,

Da Autora.

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Era estranho encontrar um lado vazio naquela cama, me abraçar nos travesseiros pela falta daquele corpo que antigamente eu abraçava. Era diferente acordar de manhã, atrasado e sem escutar a respiração calma dela enquanto me forçava a abrir os olhos. Hoje meus olhos se forçavam para abrir, por saber que uma vez abertos, ela não estaria por lá.

Mesmo com todos os avisos, diretos e indiretos, de sua parte, eu continuei lutando e crendo que aquilo jamais ia acontecer, que talvez fosse só coisa de cinema, que não ia acontecer comigo. Eu não me lembrava de ter jogado chiclete na cruz, mas estava recebendo um castigo e tanto. Ela me falava que um dia ia se cansar, que um dia ia me abandonar e que não ia dar aviso prévio. Que nosso amor era que nem pizza, uma hora ia encher, acabar e ela se levantaria e jogaria a caixa fora, indo depois se sentar na frente da TV para gastar tempo.

Mas ela era tão diferente! Talvez por esse mesmo motivo que ela não era o tipo de mulher que aturaria ficar ao lado de um homem comum como eu, com os mesmos papos, os mesmos caminhos e os mesmos destinos. Ela fugia de qualquer rotina, mudava o caminho de casa só para falar que não tava indo pra mesma casa, trocava a marca de cigarro porque pensava que era um modo de não viciar. Vício é uma coisa muito comum. Ela nem usava carro, porque como era muito caro trocar o carro toda vez que se cansava, ela preferia só mudar o tênis, aqueles all-star multicoloridos que não combinavam com nada.

Por acaso ela odiava combinar roupas, usava uma peça diferente da outra, e a primeira vez que eu a vi eu achei graça, achei estranho e até ri. Mas depois eu entendi a complexidade dela e a minha vontade de conhecê-la, decifrá-la foi maior.

Não é como se ela não tivesse me avisado. Ela falou em alto bom som que não era bom aquilo, que ela não queria me fazer sofrer, mas eu pensei que fosse história boba de qualquer garota que se acha muito forte e auto-suficiente. A merda que dessa vez era verdade. Ela disse para eu não me apaixonar, para eu ir embora, mas cada vez que ela falava isso eu chegava mais perto dela.

Também assumiu que era egoísta, que uma vez ela avisa, a outra ela ligaria o foda-se e deixaria eu quebrar a cara. E foi ai que eu me ferrei mais ainda, porque ela parou de lutar contra e deixou rolar, deixou até o momento que eu não pude mais controlar minha paixão, que minha vida sem ela parecia um desperdício de tempo, como tomar um sorvete do Mac e não comer a casquinha.

Já falei do sorriso dela? Pois é, aquele sorriso era de paralisar, conhece aquele sorriso largo, bonito, com dentes brancos, e lábios carnudos? Daquele que só em uma olhada você já tá sorrindo junto? Era esse mesmo e ainda melhor, porque sempre vinha junto com uma gargalhada, daquelas grossas e altas, mas femininas, daquelas de criança de 10 anos que descobriu algum palavrão novo, aquele típico riso animado.

E ela ficava irritada quando eu falava que tava completamente apaixonado por ela, quando chegava assim de mancinho, abraçando e a beijando, ela dava alguns passos para trás e falava para eu me acalmar, me controlar. O mais bizarro era escutar a palavra "controle" de uma pessoa que fazia tudo por instinto!

Se Raul Seixas estivesse vivo, ele a chamaria de "metamorfose ambulante", porque ao mesmo tempo que ela ria, ela brigava, ao mesmo tempo que ela queria distancia, ela vinha atrás de mim, me abraçando e pedindo para fazer amor. Ao mesmo tempo que ela queria estar por cima, ela pedia para ficar por baixo, queria ser o controle e o descontrole.

E ela queria o mundo, "Com calda de chocolate e uma cereja em cima". Falava que queria carinho, deitava de conchinha, pedia beijos no pescoço, cafuné nos cabelos - que mudavam de cor de acordo com o humor dela, mas de repente ela pulava fora, saída do meu lado e mandava eu embora.

E um dia ela pulou de vez, e só deixou um papel em branco, enrolado, com um cordãozinho envolta dele, daqueles de couro bem velho, com somente um símbolo, a única coisa que ela não tirava nem trocava, era algo como um símbolo antigo que ela nunca me explicou o significado, só falava que era dali que ela tinha saído e dali que um dia ela ia voltar.

Só sei que ela foi, e agora eu não achava graça, nem no antes nem no depois. Não é fácil de acostumar com o normal quando você viveu um tempo com o anormal. Vai ver que ela nem era anormal, somente diferente, somente perfeita. Ainda mais perfeita para mim.

domingo, 4 de outubro de 2009

Preconceito Sexual

Há tanto tempo sem postar que eu juro que estou perdendo a minha criatividade para escrita. Talvez pela falta de tempo, talvez pelo excesso de tempo, de qualquer jeito, hoje estou me focando ao máximo para poder falar pelo menos algumas linhas sobre um assunto que está me incomodando profundamente.

Não quero parecer repetitiva, ou escolher assuntos que outros já trataram, mas não tive escolha, sei que muitos de vocês não concordarão com a minha opinião, mas isso não me impede em nada de dá-la. Preconceito, seria o assunto básico, sexualidade é onde eu vou realmente me enfiar.

Há muito tempo sofro com esse preconceito, antigamente homossexuais se diziam descriminados, assunto de preconceito pelo resto da população, mas hoje em dia, é uma heterossexual que vem até vocês para falar que está sofrendo preconceito.

Algumas coisas estão se tornando moda, o que antes era considerado algo sem escolha, afinal quem realmente escolhe viver a vida sendo ofendido por o que é? Hoje em dia é considerado moda. O Homossexualismo se tornou uma marca de grife, o que me incomoda profundamente.

O modo como você se veste pode ser um dos motivos que você tem “um pé” para se tornar gay ou hetero, é uma chatação inacreditável, você fala de um modo, age de um modo, se veste de um modo, trata os outros de um modo, por isso você pode ser “x” pessoa. Tiraram a escolha do outro de assumir o que é, tiraram a capacidade dele se sentir livre para se descobrir, simplesmente enfiam um rótulo goela a baixo e você tem que aceitar, caso não aceite, é motivo de piada.

Isso não é vida, “opção” sexual não é algo que outros devem dizer para você, é algo que talvez você nasça com, talvez você tenha que se descobrir. Não é uma tribo nova, não é um estilo, é a sua vida, é o modo que você segue ela, é com quem você pretende estar quando envelhecer.

Ser rotulada de gay porque eu ajo de uma determinada forma, é uma forma de preconceito inacreditável, ainda mais por serem os próprios homossexuais que estão me rotulando. Já pensou o quanto você sofreu por ser o que você é, já pensaram como você sempre desejou ser feliz quando muitas vezes sua própria família não te aceita? Já pensou o quanto você mesmo já sofreu com rótulos, com pessoas te chatando de tal modo, com pessoas te dizendo como ser e como agir? Ou melhor, como eles dizem ter certeza como você é?

Isso é um desrespeito a vida, um desrespeito as suas escolhas, não deixar que você mesmo se descubra, e quando você nega a primeira coisa que te dizem “ah, mas você é jovem ainda, tem tempo”, o que o tempo tem a ver com essa história? Se dizem que a sexualidade é algo que está dentro de nós, não é como se eu acordasse um dia, com 30 anos de idade e descobrisse que sou hetero ou que sou homo!

Não use o que você é como grife, se você faz isso, melhor pensar mais no que realmente é, se descubra antes que alguém diga que te conhece e que te entende. Se nem ao menos você se conhece por inteiro, o que é uma pessoa te falando que sabe exatamente como você é e como você age?

Algumas pessoas que se dizem gays hoje em dia, pensam que todos em volta também serão do mesmo modo, essas pessoas para mim, não são realmente homossexuais, porque os homossexuais que eu conheço, que eu convivo, que são realmente meus amigos, não usam isso como forma de rotular alguém, eles aceitam os outros de uma maneira até divina, porque aceitam até os que não aceitaram eles quando eles se assumiram gays.

Respeito é a base de qualquer relacionamento, sexual ou amigável, isso é o que eu pretendo que algumas pessoas sigam. Respeite a decisão dos outros, respeite como o outro é, respeite como ele vive, respeite suas escolhas, porque se você não respeita, não espere que os outros te respeitem também.

Quem luta contra o preconceito e age com preconceito, mente para si e para o próximo, não respeita e não merece ser respeitado.

Abraços,

Da Autora


PS: E o Blog fez dois anos dia 4 de Setembro, parabéns para ele e obrigada a quem lê.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

O Lobo

Eu sinto muito pela demora, juro que dessa vez a culpa não foi toda minha e da minha falta de criatividade. Mas meu computador quebrou e estou usando temporariamente o do meu pai só para olhar os emails e algumas outras coisas. No entanto, antes de sair, consegui escrever algo, está meio confuso, mas acho que dá pra entender!

Beijos e abraços
Da autora.

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Eu queria gritar. Ele me chamava como um rugido alto e violento e tentava de todos os modos arranhar o meu peito, mente e corpo. Eu fechava os olhos e imaginava quando aquele tormento ia terminar, mas parecia inútil me controlar. Sua força era tão grande, me rasgava ao meio, destruía qualquer parte racional de minha mente, entrava em minhas entranhas e me possuía, me controlava e me fazia lutar.

Ele queria que eu visse tudo que fechava os olhos, todos os dias que abaixava a cabeça e seguia em frente fingindo que nada acontecia, ele trazia um tratamento de choque, me fazendo finalmente reagir. Eu não sabia o que fazer, mas aquela força que ele me oferecia, ou melhor, que ele jogava em mim violentamente, me trazia algo, algo mais forte do que eu jamais experimentei. Não era ódio, mas era totalmente descontrolado, ele ignorava minha razão e me obrigava a seguir meus instintos. Não era injusto.

Ele sabia o que estava fazendo e eu também sabia o que deveria ter feito e nunca fiz, agora era a hora de mostrar o que eu realmente poderia ser. Eu o abracei, o absorvi e deixei que meu corpo se tornasse dele, que a força que ele tinha, se tornasse a minha própria. E eu queria lutar. Eu ia lutar, eu conseguia sentir meu sangue quente circulando, queimando minhas veias, pulsando, fazendo meu coração ir mais rápido e sem controle, forte, como se eu pudesse o escutar a metros de distância. Eu podia correr sem me cansar, podia observar tudo, ver pessoas agindo do mesmo modo que eu agia, eu tinha um propósito agora e aquilo era a melhor coisa que poderia ter acontecido.

Ele me ensinava a cada passo, mostrava os sangues congelados e os corações frios que eu devia destruir, eu me enojava somente ao ver essas pessoas. Não. Elas eram mais monstros, que tomavam o poder de uma sociedade inteira, escravizando almas e absorvendo todo o poder que podiam encontrar, toda a energia de pessoas que não sabiam se proteger. Tão covardes! Não davam chance, não permitiam que essas pessoas soubessem o que estava acontecendo com as suas escolhas, deixando aquele povo ainda mais absorvido num manto de ignorância e alienação!

Eu estava lá, ainda podia me lembrar das vezes que me mantive calado, pensando que o que me tiravam era tudo que eu merecia, porque eu era o errado. E agora estava em outro lado, correndo em direção a uma justiça. E ela não era doce, era amarga, áspera e fria, congelava minha garganta a cada gole, e me esmurrava na face sem perdão, era tão congelada porque estava a tanto tempo sem ser tocada.

Eu sentia uma ira que fazia meu corpo tremer, a raiva dominava cada centímetro meu, me prendia e tentava me fazer reagir, e eu estava pela primeira vez em minha vida, reagindo. Ele não se orgulhava, nem ao menos sorria, seus dentes estavam serrados, me encarando, demonstrando um desprezo difícil de tragar. Eu merecia, depois de tantos anos andando no escuro, finalmente abria meus olhos, e merecia o desprezo pela demora. Eu tinha a força, a justiça e a raiva. Esta três combinações poderiam destruir meu corpo e tudo que nele consiste, mas agora somente me alimentava. Vencer é a palavra mais desejada, porém a mais difícil de alcançar, quando uma sociedade está tão dominada pelos poderes errados, vencer não é o caminho, mas incomodar e unir, mudar. Não é porque estou numa guerra em que todos os fatores me informam a derrota, que irei desistir. Quem antes sentia medo, agora trará medo.

sábado, 8 de agosto de 2009

Álbum de Infância

Olá todo mundo, logo mais eu volto a rotina e a velha criatividade, eu já estou a recuperando aos poucos, as aulas ainda não começaram graças a gripe do porquinho, mas acho que como falta menos de uma semana, meu cérebro já está funcionando com pelo menos mais intensidade. Eu estava querendo escrever um texto faz tempo, mas somente uma frase ficava em minha mente, "ela queria voltar a ser criança", e somente isso. E hoje finalmente consegui escrever um pouco, não acho que ficou bom, mas eu gosto dele.

Beijos e abraços,
Da Autora.

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Ela queria brincar de ser criança, escrever palavras nas estrelas e comer morango nos dedos, brincar com brigadeiro e deixar a boca toda suja. Ela queria voltar a correr sem preocupação e saber que caso caísse no chão, alguém lhe levantaria a mão. Ela queria fazer rimas bobas e escutar como era uma princesa. Esperar a hora da história e viajar em contos mitológicos, ela queria dormir abraçada em um leãozinho de pelúcia e não ser chamada de infantil.

Ela queria voltar a ser criança, não pensar em roupas nem se preocupar se tem mancha de lama em seu vestido cor-de-rosa. Ela queria reaprender o ABCD, e lembrar o 1234, cantar musiquinhas bobas e falar tudo errado e trocado. Ela queria lembrar como era legal pensar que Freddie Mercury era bonito só porque quando ele cantava pra ela "Heaven for everyone" ela se emocionava e pensava que um homem com uma voz tão linda, devia ser seu príncipe encantado. Ela queria lembrar como seus pais se divertiam quando ela falava "revi fore verione" quando cantava junto com a fita cassete.

Ela queria voltar a ser criança. Perguntar pra mãe na padaria o que era camisinha e deduzir que era uma camisa pequena pra por no dedo. Lembrar como era divertido ficar boiando na piscina, com aquelas boinhas coloridas no braço, brincar de jogo de tabuleiro gigante, onde ela mesma era a pecinha. Queria até brigar, gritar até seu pulmão sair do corpo porque seu irmão inventou um xingamento qualquer só pra ela se irritar, como Baryshnikov, ela não tinha mínima idéia de quem era e pensava que era coisa ofensiva e ia correndo bater nele.

Até era divertido, quando ele a enrolava no cobertor e fazia rolinho a primavera com ela, se bem que na época era bem irritante e a fazia gritar mais, mas nesse momento ele colocava aquela meia na boca dela. Essa parte nem era divertida.

Ela queria voltar a ser criança e lembrar como morreu de medo quando seu irmão fingiu estar possuído, e ela chorava e pedia pra ele voltar. Ou quando ela falava "pára thi!" e ele respondia "parati é um carro", e ela tentava ficar brava mas tava era escondendo um sorriso de graça.

Ela queria voltar a ser criança e ter 5 namorados diferentes ao mesmo tempo, e ter sogras que escreviam cartinhas pra ela falando como ela era linda e inteligente. Voltar para o tempo em que ela tinha mil amigos, até mesmo quando ela batia nos inimigos, quando deu uma voadora no peito de um e pulou as cadeiras da pracinha do colégio pra correr atrás dele e lhe dar um soco certeiro. Sentia falta até das broncas que recebia por isso.

Ela queria realmente voltar a ser criança, porque toda vez que parava pra pensar, sorria e imaginava como era bom aquilo, como era gostoso fazer besteira, dormir na barriga da vó e escutar aqueles barulhos estranhos. Como era relaxante pensar que no outro dia era sexta-feira e ela ia comer besteira na feira, ganhar melancia de graça e comer na mão, porque era coisa que só sua avó deixava e essa era a graça.

Mas era divertido ser quem ela era hoje, não tinha a mesma graça, nem o mesmo brilho, mas era bom, porque quando ela voltava para aquele quartinho e abria o armário dos álbuns de infância, sorria feito boba pensando como foi e é feliz pelas simples coisas que viveu.

sábado, 18 de julho de 2009

Ego

Olá caros leitores que em minhas férias não chegam a ler muita coisa minha, hahahaha. Mas consegui escrever algo hoje, algo ruim, meio, sei lá... Leiam.

Beijos e abraços,

Da autora.

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Queria fugir por algum tempo, nem que esse tempo fosse curto, que pelo menos valesse a pena. Ainda sinto de maneira constante que esta realidade não é minha, me imagino em outro lugar, com outras pessoas e outra vida, menos frustrada e mais realizada.

Sinto como se cada sentido meu fosse desperdiçado por um ignorante sem futuro, que meu cérebro seja comparado com o cérebro de um macaco treinado, que bate seus pratos, imaginando a banana. Enquanto eu bato minha cabeça contra a parede, imaginando um futuro.

Meus sentidos foram testados, postos em provas de fogo, assim como meus sentimentos mais comuns. Neguei o amor e neguei o ódio, encarei tudo como um modo único, me imaginei poderosa de mais, mesmo sabendo que não passo de um ponto insignificante entre mil pontos insignificantes. Não achei grande mérito passar em uma universidade, muito menos tirar notas altas, para mim isso é minha obrigação. Não me impressionei quando descobri que as pessoas que estão em meu convívio não se passam de idiotas pensando serem gente.

Choquei-me quando descobri que não só exijo muito de mim, mas também das pessoas que escolho como amigos, ou o que quer que seja que eu considero que baste um sorriso. Considero meus amantes retardados e os despacho mais rápido que puder. Não transo, não porque não goste do sexo, gosto e muito, mas simplesmente porque não acho nenhum homem bom o suficiente para ter a única coisa que posso oferecer por livre escolha.

Eu não me coloco muito por cima, mas é que hoje em dia eles estão muito por baixo. Isso me torna uma solteirona eterna, porque os que prestam, eu não desejo e os que não prestam, eu me apaixono mas logo os mando embora.Procuro um mistério, daqueles que surja repentinamente, sem dizer nada ou ter nenhuma explicação, que me deixe curiosa e que esteja fora de meu alcance.

Procuro algo novo, mas não busco em lugares novos, o que dificulta minha busca consideravelmente. Não quero viver fora da realidade, mas tenho desejos sonhados e impossíveis de uma maneira possível. E muito diferente da geração que vivo, não procuro fama, e sim sucesso e admiração. Porque a fama estraga o homem.

O sucesso e a admiração ainda lhe deixa com o pé no chão, tendo direito de um poder reduzido. A fama se torna num poder que se pensa ser absoluto, mas é incrivelmente perigoso e escorregadio. Faz com que você perca a noção da realidade e de suas limitações, faz você se esquecer de quem você é e seus princípios mais firmes. Vai, definitivamente, te transformar em um monstro fora do normal.

Não sou sincera toda hora e tenho muita hipocrisia, sou incrivelmente egoísta, egocêntrica, narcisista e todos os derivados do "ego" que pode existir. E sou, principalmente, uma sacana... Mas uma sacana que tentará não subir em sua cabeça sem antes te dar um aviso prévio.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Cozinharam a Notícia

Vamos ser sinceros, acho que vocês todos já estão fartos de ler sobre esse assunto ou ver em lugares como Globo, SBT, MTV, Record, entre outras. Mas francamente, eu preciso de algum modo livrar esse problema que se encontra entalado em minha garganta.

Não é mistério se eu afirmar que sou estudante de jornalismo e duvido muito que será um choque informar que estava na movimentação contra a Lei da não obrigatoriedade do diploma para jornalismo. E não me entendam mal, eu compreendo cada ponto, ou pelo menos alguns pontos dos prós e contras dessa lei e de sua polêmica (principalmente das diversas vezes nessa semana que expliquei a minha decisão de ser contra), mas tenho motivos, possivelmente plausíveis para demonstrar tal opinião tão... esquerdista talvez.

Digo talvez no "esquerdista" porque vejo que nesta nova sociedade, nesta nova geração de profissionais, não há mais como distinguir o que é direita da esquerda, se é que isso podia ser feito há anos atrás, não vivi tais tempos para saber. Mas penso que ir contra o governo, para o meio em que eu pretendo trabalhar, já é ser nomeado de "esquerda" mesmo que eu não concorde com isso (o que é o meu ponto).

É chocante pensar que somente um Ministro de oito no Supremo Tribunal Federal tenha defendido a obrigatoriedade do diploma e vergonhoso pensar que nós, estudantes e jornalistas, não nos movemos antes que essa lei fosse imposta de tal modo. Mas assim foi, eu como grande culpada por não ter me envolvido na causa antes que ela explodisse. Pretendo agradecer em breve a ajuda de Marco Aurélio por ter afirmado a importância do curso para aprender técnicas de reportagem. Talvez esse seja o único que entende um pouco sobre a nossa profissão e o nosso papel nessa sociedade.

Eu sou da seguinte opinião: Quer criticar? Entenda com o que está mexendo antes de se envolver. Gostaria de fazer um pedido aos nossos queridos ministros, vão a uma faculdade de Jornalismo, vejam como funciona o curso e tome uma decisão mais plausível. Em meu curso, a teoria se tornou tão importante quanto a prática, e em minha Universidade, a prática tem um tamanho muito grande perante todo o curso. Em meu primeiro semestre aprendi a escrever matérias, em uma semana trazia uma Pauta e na outra a matéria já escrita para que o professor como Editor nos falasse o que escrevemos errado e mostrasse como melhorar. Em nosso segundo semestre fizemos a mesma coisa com um a mais, aulas práticas de fotojornalismo, se eram bem dadas, logo isso é uma opinião pessoal de cada um. Terceiro semestre, aulas de rápido, onde aprendemos a escrever matérias de rápido e fazíamos isso toda a semana, além de gravar matérias e ir para a rua aprendendo a entrevistar com rádio, depois editar e melhorar.

Gostaria de saber se um jornalista não formado, e não digo desses jornalistas que já estão nesta profissão há anos, mas sim os que pretendem ser e não fazem curso de Jornalismo, saberiam fazer as mesmas coisas que eu aprendi em somente três semestres de faculdade, e se souberem, tão bem e tão segura quanto eu.

Obviamente o maior ponto foi a crítica perante nosso queridíssimo ministro Gilmar Mendes, não irei ofendê-lo (obviamente o sarcasmo não se encaixa nesse meu desejo), mas devo dizer sobre seu argumento para esta lei, comparando nosso curso como os de culinária, costura e moda. Não quero menosprezar estas profissões, longe de mim, penso que cada profissão possui o seu devido valor e necessidade na sociedade, mas essa comparação não teve o menor cabimento.

Entendo que a obrigatoriedade do diploma surgiu em meio de uma ditadura militar, como modo de impedir a liberdade de expressão, mas vivemos em um país completamente diferente agora. Ainda não temos tais liberdades, mas a sociedade do mesmo modo se modificou. Vou citar também um comentário da notícia do Estadão, onde um leitor falou que a obrigatoriedade era ridícula, porque os Estados Unidos e outros países citados por ele, também não era necessário diploma para ser jornalista. Entenda, meu querido oponente, que cada país possui um modo diferente de seguir seu governo, os Estados Unidos têm uma política diferente da nossa, uma economia diferente da nossa, uma educação diferente da nossa. Lá também são poucos que pagam para estudar em colégios, a maioria é colégio público e dá certo. Aqui não. Lá não existe realmente um vestibular, é dá certo. Aqui foi preciso ter um vestibular para entrar em seu devido curso. Não é um argumento comparar o nosso país com outros antes de saber como cada um funciona realmente.

O que me traz um pouco de receio foi outro ponto que o ministro trouxe em seu discurso, que a não obrigatoriedade não significa que os cursos de jornalismo serão imediatamente fechados. A palavra "imediatamente" me causou medo, quem sabe sua próxima decisão será esta, o imediatamente.

Eu sei que muitos de vocês podem dizer que isso, neste momento, não mudará em nada o trabalho de jornalista e eu concordo em partes. A parte que posso concordar é que muitas empresas não contratarão funcionários sem intimidade com a profissão, sem o diploma, porque isso pode causar problemas para a empresa e para o mercado de trabalho. Quem irá nos empregar provavelmente visará o conhecimento, não somente a vontade de ser. Mas como o primeiro papel de um estudante de jornalismo é o estágio, este ainda me parece inseguro, porque muitas empresas contratariam estagiários sem conhecimentos no jornalismo para que assim os paguem mais barato.

Não é esse o motivo principal pelo qual abracei essa luta. Há dois motivos que me vêem a cabeça quando penso na não obrigatoriedade de nossa profissão. A primeira é a várzea que está se tornando o jornalismo, muitos estudantes escolhem essa profissão no "une-dune-tê", porque seus pais obrigaram a fazer alguma faculdade. O sonho de se tornar um comunicador está sumindo cada vez mais, muitos falaram "então vamos mudar para Propaganda e Publicidade" no momento em que essa lei veio pela notícia. Acho isso um absurdo porque se escolhi o que faço é porque amo o que faço, não fui obrigada a nada e gosto de estudar o que estudo. Outro ponto é a desvalorização deste campo, como a comparação já citada de Gilmar sobre o jornalismo, somos nós que trazemos o que vocês sabem diariamente, não somos qualquer coisa.

Não tem como ficar um dia sem notícia, isso destruiria a sociedade, somos nós que lutamos a favor da liberdade de imprensa, somos nós que estávamos em meio de ditaduras tentando mostrar as injustiças de um país e ainda mais de um mundo. Somos nós que morremos do mesmo modo de soldados em guerras, só que não recebemos medalhas por isso. Somos tão importantes quanto qualquer curso, quanto medicina, advocacia, direito, engenharia e etc. Não quero ver o que eu amo sendo tão menosprezado, sendo colocado no lixo.

Se a minha profissão se tornar um curso profissionalizante, acho que todas as outras profissões que existem deviam tomar o mesmo caminho. Se temos um presidente sem educação e um ministro sem cérebro, perdemos motivos para lutar. As ideologias se perderam, os motivos também, a necessidade de mostrar nosso ponto de vista é cada vez mais inútil, a vontade de lutar some a cada segundo.

Não fui feita para abaixar a cabeça e aceitar decisões que foram impostas, não fui feita para ver meu futuro passar e não o seguir e querer o melhor. Não sou qualquer bosta, não sou inútil, mesmo sendo somente uma em uma luta contra o grande poder de um país. Não me importa se terei a vitória que desejo, o que me importa é que me escutem e quem sabe se incomodem.

Critiquem, quanto mais criticarem as minhas ideologias e os meus princípios, mais os abraçarei.


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Título: Inventado por Thiago Mattar, grande amigo, e grito de guerra que puxei na manifestação.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Walk all Over you

Olá a todos, em véspera de viagem universitária, cá estou eu só para deixar um presentindo que pensei MUITO antes de postar. É o seguinte, meus queridos leitores (se é que realmente existe algum) este texto eu escrevi faz algum tempo, na realidade, a idéia eu crio desde meus 12 anos de idade, pelo que me lembro, tentei escrever um livro mas imagine o quão precário foi um livro escrito aos 12 anos.

É americanizado, infelizmente. A personagem se chama Jane Cast e ela é simplesmente uma lunática de carteirinha, mas é uma personagem que eu realmente tenho prazer e carinho de tê-la para mim.

Esse seria, basicamente, a introdução do livro que pretendo fazer ainda dela, mais completo e adulto, penso eu, mas ainda muito doente. Acho que vou provar minha idéia quando lerem, a maioria dos homens acabam o texto com dor, muita dor! Hahaha.

Beijos e Abraços,

Da Autora.

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Era somente um beco escuro de Los Angeles, se não fosse pelo fato de uma garota saindo correndo, chorando, desesperada... Uma combinação que chamaria atenção de qualquer pessoa, ainda mais da que estava passando por aquela rua.

Jane olhou para o beco, sorriu ao ver um homem de calças arreadas, mostrando aquele seu pênis, era melhor ele aproveitá-lo enquanto ainda o tinha, pensou ela. Um de seus bebês se aconchegava em seus dedos, um dos dedos próximo do gatilho, sua CZ 75, uma delas pelo menos, hora de bancar a justiceira.

Jane caminhava calmamente, se aproximando do homem, seu sorriso podia ser visto na escuridão, seus olhos eram escondidos por um óculos, mesmo sendo noite, óculos escuros grandes que contornavam todo o caminho para seus olhos, no olho esquerdo podia ser visto as duas pontas de uma cicatriz, que sem os óculos podia ser vista, cobria verticalmente o meio de seu olho esquerdo, começando na sobrancelha, terminando no começo da bochecha.

Ela começou a cantar, a música não saíra de sua cabeça o dia inteiro, agora ela sabia porque, destino. Nancy Sinatra, “These Boots are goona walk all over you”, ela cantava baixo, iniciando a música, “You keep saying you've got something for me...”, enquanto ela canta, finalmente o homem a repara, um homem sujo, tinha uma barriga que provavelmente era de tanto beber, seus dentes eram podres e seus olhos amarelados, ele olhava para Jane irritado, surpreso.

“Quem é você? O que faz aqui?”, tantas perguntas, tantas perguntas desnecessárias, tantas perguntas que não seriam respondidas, ela queria logo escutar outro tipo de perguntas, ou melhor, de gritos...

“You've been messin' where you shouldn't have been a messin'... Você acredita em destino?” pergunta Jane, era hora de brincar.

“você está louca? Ah, mas vêm aqui... Posso lhe mostrar o destino que quiser...”, ótima afirmação, Jane riu, aquilo estava ficando divertido. “and now someone else is gettin' all your best... Com certeza, você já me mostrou”, Jane aponta a arma, não atira imediatamente, queria que ele notasse a arma em sua mão, era mais divertido com um pouco de desespero no olhar. “O que você quer? Não aponte isso para mim! O que eu fiz?”, ah... Francamente, esses homens, assumam seus erros, maldição! Jane fez uma careta, olhando fixamente em seus olhos agora séria e um pouco irritada.

Foi somente um tiro, o resto seria físico, um tiro na virilha, o homem caiu no chão e começou a urrar de dor, isso sim era vida, era simples sua teoria, sentir a vida perdendo seu espaço nos olhos de alguém e renascer nos olhos de outra pessoa, essa pessoa era Jane, o corpo de um aproveitador é feito para ser comido por vermes, nem mesmo a terra merecia tal pessoa, a terra era pura, aquele homem era imundo.

Jane chegou perto do homem, enquanto ele tentava fugir dela, ela guardava sua arma no cós da calça, agora era físico. Puxou o homem pela gola da camisa, levantando seu corpo, pressionando contra a parede, deu um soco com sua mão livre no rosto dele, sentindo o sangue pular de sua boca, sujando os óculos de Jane. Mais uma vez ela o jogou ao chão.

Agachou-se em seu corpo, chegando próximo de seu rosto, seus lábios falavam próximos do dele, “destino, eu acredito em destino, quando acordei o destino me chamou... Olha, eu quase podia escutá-lo dizer, ‘Jane, essa música tem significado, Jane, passe por essa rua, Jane... Divirta-se’, o destino sempre me seguiu e eu sempre o abracei... Você acredita em destino?”. O homem a olhava assustado, não sabia quem era aquela mulher, “Uma vez o destino me pôs num caminho, eu nunca ousei sair dele, você é um animal sujo, eu limpo essa sujeira da terra, e o sangue é a água...”.

Jane voltou a se levantar, olhando para baixo, os homens eram nojentos, tão valentes na hora de se aproveitar de mulheres, tão covardes quando encontram uma que pode acabar com a sua raça, aquilo realmente era repugnante. “O refrão da música era assim:” Jane voltou a cantar, “These boots are made for walking, and that's just what they'll do”, a cada letra ela pisava no estômago daquele homem, com força, ele sentia vontade de desmaiar, de vomitar, Jane arrastou seu coturno para o pescoço do homem, massageando com a sola de seu sapato.

“One of these days... these boots... are gonna walk all over...” Jane pressiona com força o seu pé sobre o pescoço do homem, torce com força e escuta um estalo, morto. “you...” a música sumiu de sua mente, Jane olhou para o corpo daquele homem apodrecendo ao chão, cuspiu em sua face, pegou de volta sua arma e atirou em seu pênis.

“Grand finale”, sussurrou ela enquanto saía do beco, andando em passos firmes e calmos, tirando seus óculos e limpando o sangue na barra de sua regata preta, o destino nunca pregava peças.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Terminal Santo Amaro

Bem gente, foi mal a demora, eu realmente não tinha nada novo para trazer e mesmo que quisesse pegar algo velho, estou sem meu computador, ou seja, sem meus arquivos todos para pegar algo já antigo que ainda não tenha postado aqui.

Mas então, acabei de escrever um conto, é curto e não tem muita história, o título já fala por si mesmo, Terminal Santo Amaro é um ônibus que eu pego para ir pro Parte do Ibirapuera, fui nessa segunda jogar, e ai fiquei pensando num conto no caminho para lá, espero que gostem.

Beijos e Abraços,

Da Autora.

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Ele se sentou ao meu lado, como qualquer pessoa normal que estivesse no mesmo ônibus que eu estava. Eu normalmente nunca reparo em quem está ao meu lado no assento, mas desta vez eu o olhei. Não era bonito, na realidade era um tanto quanto esquisito, olhava para frente e depois para a janela, em meio disso acabava deparando seus olhos nos meus, e voltava a desviar. Mexia as mãos compulsivamente e resmungava algo sozinho. Eu arqueei a sobrancelha e voltei a colocar um dos fones de ouvido em meu ouvido, estava escutando Kiss FM, mas começou a ter interferência, estávamos na Paulista e sempre que passamos por lá, o som começa a ter ruídos.

Desisti de escutar música, ainda por cima estavam falando do trânsito e eu estava nele para saber o quão ruim aquilo estava, provavelmente uma viagem de somente meia hora demoraria por cerca de duas horas, nenhum carro se movia e o ônibus emitia um som estranho que me fazia pensar que a qualquer momento aquilo ia parar de vez, teríamos que saltar para fora e procurar outro ônibus em melhor estado para nos levar.

Não era somente o ônibus que tinha barulhos estranhos, era o ambiente inteiro, talvez pelo clima frio, eu podia ver aquele pequenos vírus da gripe em qualquer direção que eu olhava, atrás de mim uma mulher gorda tossia em um lenço branco, agora já bege. Ao meu lado o cobrador olhava para os lados tentando enxergar mais a frente porque os carros continuavam parados depois da segunda vez que o farol ia de vermelho para verde, depois amarelo e depois vermelho de novo. Eu podia até escutar o barulho da lâmpada apagando e da outra acendendo.

Pensei em pegar um livro, mas somente naquele fim de semana tinha lido quatro livros e não suportava mais ler aquelas letras miúdas, pensei em ligar o som novamente, mas ainda estávamos na Paulista e parecia que jamais sairíamos de lá. Fiquei durante um tempo observando as pessoas que estavam naquele ambiente, parecíamos esquimós, era incrível o que um friozinho que seria considerado calor para europeus, pode causar em brasileiros. Todos com os narizes vermelhos, bochechas rosadas e olhos profundos de frio, esfregando as mãos, assoprando para tentar mandar o bafo quente para as mãos já doloridas de frio.

Eu nem me importava mais, estava indo para o Ibirapuera jogar contra uma faculdade de direito, com aquelas calças justas e um casaco que não esquentava nem ao menos um terço de meu corpo, o frio já tinha amortecido meu corpo e eu simplesmente aproveitava o vento. Olhei para ele mais uma vez e voltei a desviar o olhar quando o vi olhando para mim, involuntariamente dei aquele sorriso, aquele típico sorriso tímido de garota que não tem nada útil para fazer da vida.

Engraçado, ele riu. Passou as mãos no cabelo, seu nariz também estava vermelho, era um nariz considerável, na realidade ele devia estar feliz, pelo menos era homem e ainda tinha aquela barba rala para lhe fazer calor. Eu por outro lado nem cabelo tinha muito para esquentar meu pescoço, maldito dia que resolvi cortar meu cabelo Chanel!

"Dia mais frio de São Paulo", e maldito também os papos totalmente chatos que resolvemos falar quando não temos nada para falar. Ele sorriu e concordou com a cabeça, me disse seu nome, mas eu já esqueci, acho que era algo como Eduardo, mas poderia ser João.

Finalmente o ônibus começou a andar, acho que foi um alívio geral, respirei fundo e senti aquele ar gelado entrar em minha garganta e secar minha goela, comecei a bater meus pés no chão, ansiosa para que aquilo acabasse logo e eu pudesse ir embora. Ele fez a mesma coisa, eu olhei para seus pés, usava All Star cano alto, enquanto eu usava Adidas chamativos. E tudo voltou com um "então...", ele começou a perguntar, eu sou jornalista e odeio entrevistas, pelo menos aquelas que eu sou a entrevistada, mas respondi a quase tudo. Algumas respostas eram somente "sim", ou "não”. E ai ele me perguntou se eu sempre pegava aquele ônibus.

Falei que sim, principalmente nos fins de semana, tinha costume de ir cedo para o parque correr um pouco, na medida que o meu cigarro permitia, e andar de bicicleta, como qualquer paulistano que não tem praia. Ele riu e me surpreendeu, falou que já tinha me visto algumas vezes.

Ai eu pensei, quantas pessoas que a gente conhece, ou que já viu por ai em qualquer bar que você vá, já deu um "bom dia-boa tarde-boa noite" que você encontra em um ônibus e nunca falou nem ao menos "com licença, quero passar."? Talvez muitas, aquele homem, o Eduardo ou João, ele era uma dessas pessoas. Mas enfim, eu não ia encontrá-lo novamente, de qualquer modo, provavelmente naquele fim de semana nem ao menos lembraria seu rosto caso eu o visse por ai, entrando no mesmo ônibus, aquele cor de vinho e me sentaria sempre no lugar onde supostamente ficam os idosos, deficientes e agora também os obesos. Eu olharia para ele, no máximo daria um oi breve com a cabeça e ia embora assim que avistasse o Pão de Açúcar perto do parque.

Levantei-me e me despedi, falei algo como "foi um prazer" e pensei em falar seu nome, mas já tinha esquecido, só sabia que era algo como Eduardo ou talvez João. Dei o sinal e vi aquela luzinha laranja acender falando que tinha passageiro querendo ir embora daquele ônibus barulhento e cheio de viroses, quando sai senti aquele vento me cortar, acendi um cigarro, afinal eu ia jogar logo mais e teria que ficar uma hora sem fumar. Encolhi-me toda e continuei andando, o Eduardo ou João acenou na janela e eu sorri concordando com a cabeça, algo como "nos vemos por ai".

terça-feira, 5 de maio de 2009

Corujas Gigantes

Não temam o título, quer dizer... Temam! Porque depois do sonho que tive essa tarde se alguém entender esse poema vai ser milagre, e se ninguém me chamar de maluca movida a ácido (o que é uma mentira considerando que a única droga que uso é cigarro). Mas veio bem a calhar. Ah bixo, sem idéia pra explicar isso, não tem explicação!

Beijos e abraços

Da autora.


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Corujas gigantes
Com seus dentes pontudos
Seus olhos imensos
E seus bicos carnudos

Num céu escuro
Uma lua gigante
Rostos decaptados
Cachorros melecados
linguas enormes e sorriso maroto

É um céu multi-colorido
Com galáxias rosadas
Vampiros sacanas
Em um ataque familiar
seus dentes sangrentos
Seu bafo de alho
Seus olhos escuros

Sou a Lucy
Uma garota perdida
Vinho barato
Fumo mascado

Sou Sky
Viajando em mundos
Entrando em paralelos
Cosntruindo trajetorias
Coadjuvante de um filme romântico

Sou, enfim...
Diamante!
Dinaminte que explode
Em um TNT sorridente
Rabisco de papel
Espaço sideral
Um grafite ambulante
Esboçando a história

terça-feira, 21 de abril de 2009

Rápido, Crítico e Confuso

Estou de novo por aqui, sim, acabei de postar o outro mas me deu uma vontade inacreditável de postar minha crítica por aqui.

Espero que não gostem! Hahaha.

Beijos e abraços

Da autora.

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Não compreendo a mente confusa do ser humano. São tantos labirintos fáceis de se perder, frases sem sentido algum, ações sem pensar. Fale, mas não fale. Aja de um jeito, queira outro. Um dos motivos que não compreendo minha própria função, mas me admiro com a função confusa de outros, pior ou melhor que a minha, em um termo relativo de egoísmo natural do ser humano.

Se dizemos a alguém que o prezamos intensamente, teme nossa aproximação. Se lhe dizemos que simplesmente o odiamos, na sinceridade inocente de uma criança, nos chamam de cruéis. Se não, hipócritas. Tomamos um caminho porque pensamos que é um caminho humano, mas nos deparamos com líderes brutais e “desumanos”, chamamos de animais quem nos lambe o rosto e de normais os que matam sem motivo de sobrevivência.

Falamos de crianças carentes e famintas, terminamos nossos discursos nos alimentando de fast-food com um sorriso sujo no rosto. Criticamos polícia, mas não somos política. Xingamos países, mas não somos cidadãos. Falamos de justiça, não conhecemos justiça. Falamos de verdade, mentimos vinte e quatro horas por dia.

Confusos como a mente de um ser humano pode ser, confusos, irreais, mentirosos. Para completar minha crítica a minha própria pessoa, acrescento uma justificativa: Não sabemos o que somos, se soubéssemos, estaríamos estressados e nos achando as pessoas mais sujas do mundo. Não se pensa em cada ato se está sendo verdadeiro, honesto e justo. Fazemos, simplesmente.O instinto natural do homem é enganar.

Três prazeres pagãos

Olá a todos, a demora sempre é bem vinda! O Blogger resolveu ser boiola comigo e impedir minha postagem, mas vou tentar novamente! Ultimamente ando sem criatividade para contos curtos, só grandes projetos, sinto muito por deixar o blog um pouco abandonado graças a isso, mas tentarei me manter em dia por aqui também!

Meu próximo post é um poema, nem um pouco cristão, como eu mesmo digo em um trecho. Eu simplesmente queria um cigarro em plena madrugada!

Espero que gostem.

Beijos e abraços,

Da autora.

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Queria meu último cigarro,
Escutar a pedra sendo riscada,
Uma chama acesa e o cigarro queimando.
Uma primeira fumaça, solta no ar.
Um trago tão ardido,
Queimando minha garganta.
A fumaça some...
Não tão densa,
Filtrada pelos pulmões negros.

- Rosa uma vez, foi-se criança.

Queria meu último whisky,
O som delicioso do liquido em um copo fino de cristal.
Sem pedras de gelo para melhor apreciar o sabor!
Um gole longo,
Um fogo que arde os olhos.
Corpo aquecido e um paladar contido.

Queria minha última transa,
Daquelas de roupas rasgadas
Paredes quebradas!
Escutar o som excitante de um grito de prazer.
Sem significado,
Sinais eróticos para um coração carente.

- Foi-se adulto agora a alma inocente.

Sem pensamentos cristãos
Meus últimos momentos são todos pagãos.
Prazeres momentâneos,
Mas do tamanho de uma alma perdida e de um corpo humano.

sábado, 7 de março de 2009

Estrelas

Olá a todos novamente, eu disse que voltaria com tudo dessa vez e cá estou eu lhes trazendo um novo texto. Bom, eu não tenho muito a dizer sobre isso, é um conto romantico de meu tipo de romantico, espero que gostem.

Beijos e Abraços,

Da Autora.

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“Por que me trouxe aqui?”, ele questionava, olhando para ela, sem direção correta, mas era livre. Desde que tinham saído de sua casa, ela dirigia seu conversível vermelho sem dizer absolutamente nada, somente lhe disse que iam para um lugar próximo de o que todos acreditavam ser Deus. Ele fazia perguntas e ela não o respondia, só o olhava e sorria.

Aos poucos foram se distanciando da cidade, e ela continuava silenciosa, enquanto ele tentava descobrir onde estavam indo, logo após subiram um morro, que se tornou numa grande montanha e foi ai que ela parou o carro e ele perguntou novamente.

Ela fez sinal para que ele se calasse, se sentou na grama, no topo daquela montanha e o puxou para próximo dela, fazendo-o deitar-se junto. Ele olhava para os lados, querendo decifrar tudo aquilo, mas era somente uma montanha. “Me responda, por favor...”, ele pediu agora nem acreditando numa futura resposta. Ela virou o rosto para ele, próximo de seu ouvido. “Somente escute, elas falam conosco...”, ela sussurrou suavemente em seu ouvido.

“Elas quem?”, outra pergunta. Ela sem dizer nada de mais, apontou para o céu, para as estrelas brilhantes, como vaga-lumes presos num imenso azul marinho. “Feche os olhos e tente escutá-las”, ela sussurrou novamente, virando o rosto para observar as estrelas.

Ele não tinha muita opção, por isso fechou os olhos como o pedido suave de sua menina, tentando escutar algo, mas só conseguia escutar sua respiração e o assobiar do vento entre as árvores em volta.

Iluminação.

Sou como a luz que brilha em teus olhos, sou enorme, mas para ti, meu amor, sou pequena.

Toca-me suavemente com tuas mãos másculas e, mesmo assim, gentis. Beija-me com um doce sabor, sem significado certo, mas com lábios de mel. Sinta-me sem precisar me acariciar, porque nossos corpos celestes se sentem naturalmente, trocando energias e sentimentos.

Vosso amor é grandioso, cuidadoso. Ando em passos curtos, temendo ferir-te, agrado-te como posso, mas sinto-me como uma esfinge misteriosa que, para ti, guarda segredos mil. Sou simples, sou eterna e sou delicada. Não tenho mistérios, somente o mistério que não me pertence.

Mistério esse, mais antigo que minha alma, mais antigo que o divino que nos observa daquele topo azulado, mais antigo que civilizações, ou que os planetas, luas e galáxias. Demos um nome, mas o resto ele próprio se criou.

Uso o nome para dizer meus mais divinos sentimentos perante ti. Eterno, singelo e sincero.

Este é o amor que tenho, um amor celeste.

Ele abriu os olhos, crente que as estrelas tinham lhe dito algo, mas quando olhou para o lado, para sua estrela delicada, viu-a sorrir. Queria agradecer, mas não sabia o que dizer, somente retribuiu o sorriso singelo, beijando seus lábios com delicadeza, deixando que a luz transmitisse mensagens belas para o azul marinho do céu.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O Espelho

Olá novamente, como estava em falta durante tanto tempo, minha imaginação e capacidade filosófica surgiu com sua potência quase máxima.

Como se diz, é preciso errar para saber viver. Pois então, hoje, numa filosofia um tanto quanto negativa sobre minha própria imagem, delirei sobre a realidade, primeiramente queria apresentar as frases que me apareceram sem muitos significados há poucas horas atrás, logo após uma citação de um autor que eu simplesmente venero.

Beijos e abraços,

Da Autora.

- Vivemos no perfeccionismo de Oscar Wilde, somos os Dorians Gray da realidade.

- Ele era um personagem de um mundo fictício, preferia a imaginação para fugir da dureza do mundo real.

- O que é que criamos além de nossos desejos frustrados?

- Todo homem tem uma máscara, alguns se esquecem de sua verdadeira face. Olhei-me no espelho e me espantei com a realidade, ela era muito feia para ser real.

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"Viver é a coisa mais rara do mundo. Muitas pessoas existem, só isso". Oscar Wilde.

Ele andava cada passo como se fosse um rei a descobrir o conhecimento, suas palavras saiam do ouro e seus olhares brilhavam como o sol. Seu sorriso deixava qualquer mortal extasiado, seu toque causava arrepios. Ele era herói, artista e príncipe.

Nos dias normais, colocava um sorriso no rosto, um espírito puro e um coração aberto, dizia ajudar os pobres e seguia cada dia como se fosse um enviado de Deus. Dialogava seus conhecimentos, filosofava sobre a vida e como se deve segui-la. Vivia muito bem, se não fosse pelas noites.

Todas as noites ele se olhava no espelho, imaginava e refletia com o reflexo de seu rosto programado, respirava bem perto, para ver se conseguia deixar o espelho fosco com seu bafo, mas era engraçado como mesmo que ele soprasse até seus pulmões saíssem de seu corpo, o espelho nunca ficava embaçado.

Ele olhava para as jóias de seu corpo, olhava para suas roupas enfeitadas, para seu sorriso contínuo, para seus sapatos de camurça. Olhava seus livros e suas anotações, olhava suas fotos e suas cartas, tentava manter o foco em sua face, mas nunca conseguia se olhar por completo, evitava seus olhos, porque eles eram cruéis.

Respirava fundo e se virava, tocava em seu rosto, achando a fresta daquela máscara, pensava muitas vezes antes de retirá-la, fechava os olhos e voltava para frente do espelho, agora sem nenhuma máscara. Abria um olho de cada vez, um cantinho só, uma pontinha ainda com os cílios atrapalhando a visão, abria finalmente um olho, mas logo o fechava.

Era tenebroso, temia seu próprio rosto, porque tentava compreender o que ele próprio lhe passava, qual mensagem real e transparente. Se ele fosse transparente, não conseguiria atuar, se ele fosse transparente ele encararia o que não era certo encarar.

Sentou-se em uma poltrona, de costas para o espelho, pegando seu velho caderno de notas, ele costumava dizer coisas legais, para pessoas frustradas. Porque a maioria não vivia o dia inteiro preso em uma máscara para ser feliz com a ficção. Alguns viviam realmente, ele os invejava, talvez não.

A vida é muito dura, muito concreta e muito arisca, porque o homem a faz assim. Têm tantos medos, tantas barreiras formadas por si, que esquece da facilidade que pode ser viver. Faz sonhos, cria desejos, expectativas, para depois desistir de cada passo.

Volta ao mais fácil, percebe que um homem não pode viver de sonhos. Repara que às vezes é somente criações de desejos frustrados. Dizem não, quando podiam, com a facilidade de uma criança inocente, dizer sim.

Criam imagens e aparências, se tornam o próprio Dorian Gray, no perfeccionismo irreal em uma obra de Oscar Wilde. Quando assassinam sua imagem, observam as formas horrorosas que suas imagens reais lhes criam.

São fracos, são frágeis, são metamorfoses... E são, ao mesmo tempo, simplesmente humanos normais. Não são príncipes, não são heróis, muito menos artistas ou deuses. Não assumem com facilidade a realidade simples do existir.