quinta-feira, 30 de setembro de 2010

4:00

 Acordo todos os dias com aquele mesmo pássaro cantando às quatro horas da manhã. Sempre me esqueço de fechar a janela e o vento frio deixa metade do meu rosto como gelo. Só metade, porque a outra metade está afundada nos travesseiros. Eu fico pensando porque meu despertador ainda não tocou e o motivo do breu que vejo na janela. Minha mente ainda pensa, perdida entre o sonho e a realidade - irritante realidade que poderia simplesmente sumir às vezes. Na minha concepção já se passam das seis da manhã e eu devo me levantar, mesmo que todos saibam que eu realmente não levanto antes das sete e quinze, quando me restam só quinze minutos para me vestir e sair. Motivo principal pelo qual meus cafés da manhã foram instintos. Estico os braços, tateando por algo, derrubo meus anéis que estão na ponta da mesa, derrubo um pacote de bolachas do dia anterior que me esqueci totalmente de jogar no lixo, bagunço os papéis que deixei separados e organizados antes de dormir. Derrubo, enfim, o celular no chão, ligando-o para ver as horas. Quatro da manhã. Xingo aquele pássaro maldito, espero que ele coma uma fruta estragada. Viro-me na cama, caçando as cobertas que derrubei no meio do processo, estou tão enrolado, com o lençol enrolado em minha perna direita, o primeiro cobertor jogado ao chão, o segundo preso em minha perna esquerda. Sinto como se minha cama tivesse se transformado em um monstro enquanto eu dormia e que estava já em seu processo de alimentação, pronta para me devorar. Talvez devesse agradecer o pássaro, pensando deste modo. Talvez ele tenha me salvado de uma morte brutal. Quanta besteira. Desenrolo tudo que devo desenrolar, deito novamente de bruços, virando meu rosto por um lado. Desconfortável. Viro-o então para o outro. Ainda não está confortável o suficiente. Viro-o novamente. Desisto, durmo assim mesmo. Deixe que a cama me devore.