segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O abraço silencioso

Eu a abraçava carinhosamente, deixando-a aninhada em meu corpo. Seu calor se tornava parte de mim, meu calor ficava próximo de seu coração enquanto ela segurava minhas mãos, deixando nossos dedos entrelaçados, acariciando-me como podia. Sua respiração era suave, como se ela estivesse quase dormindo, talvez estivesse, pois seus olhos estavam fechados e ela se esfregava em mim como se fosse um gato, ronronando baixinho, num momento pré-sono.

A cama era pequena, mas nossos corpos cabiam perfeitamente, como se aquilo tivesse sido construído para nós dois. Sua respiração só mudava quando eu decidia arriscar um beijo em seu pescoço, sentia nesse momento seu coração batendo mais rápido. Isso me perturbava.

"O que você está fazendo?", seu sussurro era tão baixo e tão rouco pelo longo período que estávamos sem nos falar que a vibração fez meu corpo mexer.

"Nada". Respondi ao pé do ouvido, pegando um dos meus braços, o que estava lhe servindo como travesseiro e ajeitando seus cabelos para trás. "Por que seu coração bate tão rápido quando lhe beijo?", questionei enquanto deixava meus dedos entrarem em seu cabelo. Ela suspirou, abrindo levemente os olhos e me olhando de canto.

"Não posso dizer... Prometi", ela respirou fundo, pensei que neste exato momento ela ia se levantar e ir embora. Não. Ela se aninhou mais em mim e pegou mais firme em minha mão junto a dela, dando um beijo suave nas costas de minha mão, sorri e mordi sua orelha. "Do que você tem medo?", perguntei.

Ela hesitou durante um tempo, virou-se para mim e disse "Não tenho medo". Deixei que minha mão escorregasse pelo seu rosto e me aproximei mais, meus lábios tocaram seus lábios, o gosto era doce, mas meus lábios estavam úmidos e os dela estavam secos, a ponto de mostrar ansiedade. "Não faça isso", a voz dela se elevou agora e ela me distanciou, "assim vou ser obrigada a sair daqui", ela torceu o nariz se sentando na cama, levantei e peguei em suas mãos.

"Por que?". Ela imediatamente tirou suas mãos das minhas e cobriu seu rosto, parecia mais perturbada que eu. Talvez nossos sentimentos fossem de fato muito confusos. Talvez meu amor fosse passageiro e talvez o medo fosse o da entrega. Talvez sua fuga fosse um modo de proteção. Ou então talvez, somente talvez, nós fossemos cegos demais. O suficiente para não nos deixarmos entregar, ou ver que nós realmente estamos certos e que os diversos abraços à meia noite, sem nos tocarmos totalmente, fossem nada além de uma mensagem do que deveríamos fazer.

"O que aconteceria depois disso?", ela destampou o rosto, apoiando-o em uma mão, "como seria o dia seguinte? Como acordaríamos?". Eu pensava em tantas frases para lhe responder, tantas coisas que poderiam ser mentira daqui em diante, mesmo que para mim, neste exato momento, eu sentisse que tudo que falaria seria somente a pura verdade.

"Se eu descobrir que te amo, se descobrir que não posso mais passar um dia longe de você e se você ir embora, se você não retribuir, me sentirei tão destruída que a reconstrução seria quase impossível. A sutil ideia de que teria que recolher mais uma vez esses cacos me mata".

"Eu não te entendo... Ou melhor, não entendo o que devemos fazer. Se devo lhe abraçar, roubar-lhe um beijo e lhe pedir para ficar, ou se devo lhe permitir a saída".

"Jogamos um jogo perigoso, não é mesmo?". Ela sorriu triste quando me disse isso, ajeitou seus cabelos e os prendeu em um rabo de cavalo frouxo e se levantou, colocou os sapatos e foi se distanciando.

"Como vamos saber se não tentar?", segurei seu braço, tentando fazê-la voltar.

"E como vamos nos recuperar caso nossa tentativa falhe?".

Essa foi sua última frase antes de sair pela porta. Fiquei observando a madeira, escutando diversas vezes o som da outra porta fechando, o som do elevador subindo, os passos dela entrando e o elevador descendo.