terça-feira, 29 de maio de 2012

Somebody do Love



Acordo cada manhã um pouco mais morto, mal posso me manter em pé, vejo-me no espelho e só encontro lágrimas. Deus, o que você está fazendo comigo? Passei todos meus anos acreditando em você, mas não encontro paz, Senhor. Posso enfim encontrar alguém para amar?

Trabalho duro todos os dias de minha vida, até que não me reste o pó, mas no final trago a solidão como o único pagamento. Então me ajoelho, Deus, e começo a rezar até que as lágrimas escorram de meus olhos. Senhor, posso enfim encontrar alguém para amar?

Todos os dias eu tento me manter, mas todos me jogam ao chão, dizendo-me que não passo de um insano com muitas ideias na cabeça, sem o mínimo de senso comum. Não me resta ninguém, Deus, ninguém que acredite em mim.

Posso enfim encontrar alguém para amar? Não tenho mais coração, não tenho mais ritmo, continuo me perdendo pelo caminho. Mas estou bem, me mantenho firme, não pretendo me entregar a derrota. Só preciso desesperadamente me livrar dessa cela apertada. Um dia eu ainda serei livre, Senhor!
Então, somente então, eu encontrarei alguém para amar.

Isso foi uma interpretação meio tosca que fiz em base do meu fanatismo por Queen :x

terça-feira, 15 de maio de 2012

Capítulo 1


Algumas coisas sobre mim:

Tenho uma personalidade forte e instável
Mudo de opinião muitas vezes
Não me apego
Me apaixono muito facilmente (notou a dualidade?)
Tenho grande facilidade de largar vícios
Tenho grande facilidade de fazer vícios
Não gosto de chocolate
Amo melancia
Não gosto de nhoque
Não gosto de ervilhas (por que as pessoas comem algo que não tem gosto?)
Não sou competitiva (em esportes ou jogos)
Não tenho religião
Não sou ciumenta (não daquele tipo maluco, sabe?)
Acredito em tudo até que me prove ao contrário
Gosto de ficar sozinha (mas acho que é porque não tive escolha)

Capítulo 1

Acordei em susto. Alguém tinha acabado de pular em minha cama de maneira empolgada, dando-me um ataque cardíaco de alguns segundos, quando finalmente pude raciocinar e abrir meus olhos, vi Bianca me encarando com um sorriso no rosto.

- Acabei de encontrar o homem dos meus sonhos! – Olhei para os lados, buscando meu celular na minha escrivaninha, estiquei minha mão para pegá-lo: 03:45 da manhã. Meu suspiro saiu como uma panela de pressão. – Eu não podia esperar até amanhã, desculpa!

- Acho que você quis dizer até o amanhecer, porque pelos meus cálculos isso já é “amanhã”. – sorri ao encarar o rosto arrependido dela. – Ok, mas agora que já me tirou dos braços de Morpheus, me conta sobre o encontro. – Sentei-me em pernas de índio na cama, me ajeitando o máximo possível e acendendo o pequeno abajur ao meu lado.

Bianca era o tipo que todo homem já deve ter desejado para si. Pequena, magrinha, ruiva de cabelos cacheados, olhos verdes, pele branca com sardinhas nas bochechas, lábios sempre vermelhos naturalmente. Do tipo linda, do tipo nada a ver comigo. Eu era grande, com cabelos morenos e ondulados, uma boca estranha e sem formato (minha mãe a chamava de “boca de babado”, seja lá o que isso quer dizer), nunca fui magra demais, e não foi por falta de regime, é que eu tenho a infelicidade de ter o que as pessoas chamam de “ossos largos”. Minha vida inteira o que eu mais queria ser era uma “Bianca”, não que a inveje (pelo menos não do modo negativo, porque toda mulher inveja a outra, não importa o grau de afinidade), acho que seria mais admiração pelo corpo “mignon” dela. 

- Ele passou no teste, Pri! – ela me disse empolgada, se jogando mais na cama, olhando para o teto como se o visse lá – Primeiro ele me levou para jantar no restaurante japonês – eu sinceramente não entendo essa moda de comida japonesa, de uns anos para cá, comer algo cru é mais descolado que ir num restaurante francês – depois andamos pela avenida, conversando sobre nossos interesses – ela continuou, enquanto se virava novamente para me olhar com um sorriso no rosto – aí, quando eu imaginei que nosso encontro já estava chegando ao fim, sugeri o teste, perguntei se podíamos passar na livraria, só para fuçar um pouco...

- E o que ele disse? Como ele se comportou? 

- Ele sorriu, amou a ideia! E falou a palavra mágica: “eu amo livros”. – ela fez uma voz grossa que me causou gargalhadas – claro que não é um fã de Jane Austen, e ainda bem, né? Pelo menos gay eu já sei que ele não é! 

- Eu acho que nem mesmo os gays gostam de Jane Austen. Ela é uma autora legitimamente feminina, é mulher demais até mesmo para gays.

- Ele prefere os livros policiais, sabe aqueles que a gente sempre ignora? – Concordei com a cabeça, eu era uma pessoa romântica para livros (e acho que somente para eles), portanto qualquer outro gênero não era tão bacana. – E ficção científica, sério... quem, além dos meus pais, gosta de ficção científica? 

- Ele. 

- Sim, mas tudo bem. O que importa é que ele passou no teste, certo?! E já falei que ele é lindo? – ela riu.

- Sim. Lindo, loiro, rico, másculo, tudo aquilo que nós queremos e não temos. – Melhor dizendo, tudo aquilo que eu quero e nunca terei, porque para ela já não era tanto problema. – Mas se vocês foram jantar, foram na livraria e tudo mais, como estão voltando a essa hora, Bianca? 

- Porque depois ele me levou para outros lugares, Priscila. – ela forjou uma cara de inocente que logo foi substituída por uma gargalhada empolgada. – Temos mais uma coisa na lista, mas essa é melhor eu mantenha para mim mesma. – disse fazendo um sinal com a mão de que algo muito grande aconteceu.

- BIANCA!

- Até parece que não gosta. – riu ao pular novamente da cama, dessa vez para sair dela.

- Não faça inveja para as amigas, sabe que isso é algo que não está na minha rotina há tempo. – e era verdade, mal lembrava a última vez que tive alguma relação com um homem, talvez tivesse sido na minha última tentativa de romance, frustrada como sempre. 

- Não fica triste, amiga! O que é seu, tá guardado! – Bianca já tinha basicamente saído do meu quarto quando finalizou a frase. – Boa noite! – gritou da sala.

- O problema é que foi tão bem guardado que nem Deus acha. – suspirei quando voltei a me enfiar na cama, dessa vez já sem sono. – Vamos lá, quem sabe Darcy me consola. – sussurrei o buscar em minha escrivaninha o velho exemplar de Orgulho e Preconceito.

***

Não pense que eu era algum tipo de “mal-comida”. Não, eu não era. Só estava cansada de toda a batalha da vida solteira e tinha aceitado o fato de estar sozinha e não estava infeliz com isso. Não queria mais passar pelas etapas de conquistas, sorrisos bobos, “qual seu telefone?”, marcar encontros, transar ou não transar na primeira saída, a espera do retorno, os meses que você passa para conhecer a pessoa, dizer que está apaixonado, finalmente assumir que a ama, para que, de um dia para outro, você (ou ele) descobrir que não, você não o ama mais e que tudo isso era passageiro. Durou alguns meses, durou alguns anos, tanto faz, mas acabou. 

Aí vem a hora de enfrentar a outra fase: a do desapego. Você se acostumar com a ausência de telefonemas, entender que não pode mais contar como foi seu dia, sua vida sexual cai 80% e todos os problemas sentimentais, as noites sem dormir porque não parava de chorar, o medo de sair para uma festa sozinha, a solidão das sextas-feiras pós-trabalho. E aí quando você finalmente se recupera de tudo, você volta para a fase 1 e você nunca sai dessa roda.

Eu tinha cansado disso, com o meu último namoro mal sucedido eu decidira dar um tempo para o romance todo, me focar em livros e curtir o que as pessoas costumam chamar de “minha própria companhia”, não tinha problema nenhum nisso, afinal. Algumas pessoas pensavam que eu ainda não tinha superado o término, mas não era isso (principalmente porque fora eu quem dera o fim na história), Bianca achava que eu estava em algum tipo de depressão, por simplesmente não querer mais sair para todas as festas que éramos convidadas. Bianca era mais inocente que eu, creio que tinha se enfiado mais de cabeça dos romances que líamos, acreditando naquela história que o “amor de verdade” estava próximo e que era só preciso procurar. Eu não acreditava nisso, tinha cravado em meu cérebro e em meu coração que esse tipo de amor tinha passado da minha avó para minha mãe e me pulado, eu não era para aquilo, eu não era daquela época e eu não ia encontrar o amor de minha vida na padaria, no bar e, pior ainda, na balada. 

Eu queria paz. Queria trabalhar, caminhar até minha casa, ler um livro e descansar, talvez sair para algum bar, tomar uma cerveja e voltar. Não estava procurando o homem da minha vida, estava procurando sossego.