quarta-feira, 3 de junho de 2009

Terminal Santo Amaro

Bem gente, foi mal a demora, eu realmente não tinha nada novo para trazer e mesmo que quisesse pegar algo velho, estou sem meu computador, ou seja, sem meus arquivos todos para pegar algo já antigo que ainda não tenha postado aqui.

Mas então, acabei de escrever um conto, é curto e não tem muita história, o título já fala por si mesmo, Terminal Santo Amaro é um ônibus que eu pego para ir pro Parte do Ibirapuera, fui nessa segunda jogar, e ai fiquei pensando num conto no caminho para lá, espero que gostem.

Beijos e Abraços,

Da Autora.

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Ele se sentou ao meu lado, como qualquer pessoa normal que estivesse no mesmo ônibus que eu estava. Eu normalmente nunca reparo em quem está ao meu lado no assento, mas desta vez eu o olhei. Não era bonito, na realidade era um tanto quanto esquisito, olhava para frente e depois para a janela, em meio disso acabava deparando seus olhos nos meus, e voltava a desviar. Mexia as mãos compulsivamente e resmungava algo sozinho. Eu arqueei a sobrancelha e voltei a colocar um dos fones de ouvido em meu ouvido, estava escutando Kiss FM, mas começou a ter interferência, estávamos na Paulista e sempre que passamos por lá, o som começa a ter ruídos.

Desisti de escutar música, ainda por cima estavam falando do trânsito e eu estava nele para saber o quão ruim aquilo estava, provavelmente uma viagem de somente meia hora demoraria por cerca de duas horas, nenhum carro se movia e o ônibus emitia um som estranho que me fazia pensar que a qualquer momento aquilo ia parar de vez, teríamos que saltar para fora e procurar outro ônibus em melhor estado para nos levar.

Não era somente o ônibus que tinha barulhos estranhos, era o ambiente inteiro, talvez pelo clima frio, eu podia ver aquele pequenos vírus da gripe em qualquer direção que eu olhava, atrás de mim uma mulher gorda tossia em um lenço branco, agora já bege. Ao meu lado o cobrador olhava para os lados tentando enxergar mais a frente porque os carros continuavam parados depois da segunda vez que o farol ia de vermelho para verde, depois amarelo e depois vermelho de novo. Eu podia até escutar o barulho da lâmpada apagando e da outra acendendo.

Pensei em pegar um livro, mas somente naquele fim de semana tinha lido quatro livros e não suportava mais ler aquelas letras miúdas, pensei em ligar o som novamente, mas ainda estávamos na Paulista e parecia que jamais sairíamos de lá. Fiquei durante um tempo observando as pessoas que estavam naquele ambiente, parecíamos esquimós, era incrível o que um friozinho que seria considerado calor para europeus, pode causar em brasileiros. Todos com os narizes vermelhos, bochechas rosadas e olhos profundos de frio, esfregando as mãos, assoprando para tentar mandar o bafo quente para as mãos já doloridas de frio.

Eu nem me importava mais, estava indo para o Ibirapuera jogar contra uma faculdade de direito, com aquelas calças justas e um casaco que não esquentava nem ao menos um terço de meu corpo, o frio já tinha amortecido meu corpo e eu simplesmente aproveitava o vento. Olhei para ele mais uma vez e voltei a desviar o olhar quando o vi olhando para mim, involuntariamente dei aquele sorriso, aquele típico sorriso tímido de garota que não tem nada útil para fazer da vida.

Engraçado, ele riu. Passou as mãos no cabelo, seu nariz também estava vermelho, era um nariz considerável, na realidade ele devia estar feliz, pelo menos era homem e ainda tinha aquela barba rala para lhe fazer calor. Eu por outro lado nem cabelo tinha muito para esquentar meu pescoço, maldito dia que resolvi cortar meu cabelo Chanel!

"Dia mais frio de São Paulo", e maldito também os papos totalmente chatos que resolvemos falar quando não temos nada para falar. Ele sorriu e concordou com a cabeça, me disse seu nome, mas eu já esqueci, acho que era algo como Eduardo, mas poderia ser João.

Finalmente o ônibus começou a andar, acho que foi um alívio geral, respirei fundo e senti aquele ar gelado entrar em minha garganta e secar minha goela, comecei a bater meus pés no chão, ansiosa para que aquilo acabasse logo e eu pudesse ir embora. Ele fez a mesma coisa, eu olhei para seus pés, usava All Star cano alto, enquanto eu usava Adidas chamativos. E tudo voltou com um "então...", ele começou a perguntar, eu sou jornalista e odeio entrevistas, pelo menos aquelas que eu sou a entrevistada, mas respondi a quase tudo. Algumas respostas eram somente "sim", ou "não”. E ai ele me perguntou se eu sempre pegava aquele ônibus.

Falei que sim, principalmente nos fins de semana, tinha costume de ir cedo para o parque correr um pouco, na medida que o meu cigarro permitia, e andar de bicicleta, como qualquer paulistano que não tem praia. Ele riu e me surpreendeu, falou que já tinha me visto algumas vezes.

Ai eu pensei, quantas pessoas que a gente conhece, ou que já viu por ai em qualquer bar que você vá, já deu um "bom dia-boa tarde-boa noite" que você encontra em um ônibus e nunca falou nem ao menos "com licença, quero passar."? Talvez muitas, aquele homem, o Eduardo ou João, ele era uma dessas pessoas. Mas enfim, eu não ia encontrá-lo novamente, de qualquer modo, provavelmente naquele fim de semana nem ao menos lembraria seu rosto caso eu o visse por ai, entrando no mesmo ônibus, aquele cor de vinho e me sentaria sempre no lugar onde supostamente ficam os idosos, deficientes e agora também os obesos. Eu olharia para ele, no máximo daria um oi breve com a cabeça e ia embora assim que avistasse o Pão de Açúcar perto do parque.

Levantei-me e me despedi, falei algo como "foi um prazer" e pensei em falar seu nome, mas já tinha esquecido, só sabia que era algo como Eduardo ou talvez João. Dei o sinal e vi aquela luzinha laranja acender falando que tinha passageiro querendo ir embora daquele ônibus barulhento e cheio de viroses, quando sai senti aquele vento me cortar, acendi um cigarro, afinal eu ia jogar logo mais e teria que ficar uma hora sem fumar. Encolhi-me toda e continuei andando, o Eduardo ou João acenou na janela e eu sorri concordando com a cabeça, algo como "nos vemos por ai".

Um comentário:

Unknown disse...

Eu vejo os vírus também!!! E abro tudo que é janela! Nego fico puto comigo! Bom texto. Larga esse cigarro, mulher! Pra poder correr mais! hahahaha