domingo, 7 de março de 2010

Psicólogo

Sempre imaginei que encontraria somente um divã. Talvez uma poltrona para ele se sentar, uma pequena mesa com papéis organizados de maneira paranoica, um livro de Freud só para fazer imagem de bom profissional e uma pequena estátua de um homem careca, só o rosto dele, para representar a mente humana.

Mas não foi exatamente assim quando entrei na sala de consulta. O ambiente não era escuro como sempre imaginei, daqueles com só cortinas, bem mal iluminado e com somente a luz de um abajur de luz quase nula no canto da mesa. Na realidade parecia minha sala, clara, com móveis brancos, paredes brancas, janelas grandes e lâmpadas frias, duas poltronas de bom gosto e confortáveis de frente a mesa, atrás dela uma poltrona grande e ainda mais confortável para o psicólogo, afinal ele fica lá o dia inteiro, nada mais justo que um bom lugar para se sentar.

Também nunca pensei em uma psicóloga, assim... Uma mulher, mesmo sabendo que quase todos os cursos de psicologia a predominância é feminina, minha mente sempre imaginou um homem velho, com barba de algodão, óculos meia lua, alto e com mãos com dedos finos e longos. Mas lá estava ela, uma mulher de estatura média, sorriso largo, bonita e cabelos sem um fio branco. Talvez fosse para dar confiança.

Não que eu ache que tenha funcionado.
Isso não significava que aquilo ia ser mais agradável.
Não mesmo...
Nada agradável.

Eu sabia que quando a parte de apresentação terminasse, as coisas iam se complicar, aquela confiança de "finalmente me assumi maluco" ia desaparecer e eu ia entrar em choque, talvez. E foi, quando a primeira pergunta veio eu já não sabia o que tinha que fazer.

Eu nunca entendi essas perguntas que eles insistem em fazer. É óbvio que se soubéssemos responder, não estaríamos ali. E como eles pensam que nossa mente realmente funciona? Acham que temos pensamentos precisos, concretos? Que sabemos o que queremos, que sabemos o que sentimos?

Francamente!

"Como você se sente?". Isso para qualquer pessoa seria normal, você fala em automático um "muito bem", ou só acena a cabeça com um leve sorriso e canto de rosto, retribui a pergunta fingindo fortemente estar interessado, mesmo que na maioria das vezes você não dê a mínima para a resposta do outro.

Mas para um psicólogo é diferente. Você tem que responder de verdade, sem a resposta automática, tem que pensar no que vai falar, se disser um "muito bem", ele vai lhe perguntar por que você está ali, afinal. E ai entra em um papo de como você não sabe mexer com seus sentimentos e tudo vai por água a baixo, você sai de lá mais depressivo do que quando entrou, procura o modo mais fácil de se matar, se joga encima de um carro e não morre. E ai você vai ser obrigado a conviver com aquele cara, no caso aquela mulher, até o resto de sua vida por ser um depressivo suicida.

Mas os psicólogos nunca pensaram como responder a essa pergunta pode ser complicado.

Eles esperam fielmente que nós tenhamos uma resposta curta e precisa. Ninguém nunca realmente imaginou que nossa mente vaga por diversas direções diferentes e que nada é preciso. Para eles isso pouco importa, ou importa muito e eu não faço ideia disso.

De qualquer modo eu congelei com aquela questão, porque sabia que logo após viria as outras. "Por que você se sente assim?". Essa para mim é praticamente uma ironia, uma brincadeira de mau gosto do próprio doutor.

Se eu soubesse não estaria ali.

Foi ai que eu pensei, eu fiquei um tempo calado, para mim foi pouco, mas foi quando eu vi a psicóloga olhar para o relógio impaciente que vi que tava a tempo de mais calado. Eu nem sei o que sinto! Nem sei o porquê disso, e se ela não sabe, aquilo vai mal.

E eu nem queria esperar para que a pergunta "por que você fuma?", ou "por que você bebe?", ou "por que você transa?", viesse a tona. Eu me forcei a sorrir e falei qualquer bobagem que nem eu mesmo entendi, estendi a minha mão e a cumprimentei e disse um "desculpe, pensei que estava na área de dermatologia", ou algo do tipo.

Dei uma leve risada fingindo que realmente me enganei e pedi desculpas por fazê-la perder seu tempo, mas eu tinha uma reunião urgente e não podia me atrasar.

Levantei-me e fui embora com a mesma velocidade que entrei.