segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A Crônica da Ofensa

Faz tempo que eu não faço essa coisa de dar explicação, mas lá vai: Esta crônica é um trabalho que tenho que entregar próxima segunda, teoricamente teria que falar de meus defeitos (mesmo que não os encontre) como se fosse outra pessoa falando. Teoricamente os que as pessoas acham de mim. Por isso me foquei no que me lembro do meu primeiro dia de aula, foi o que falaram para mim, os comentários, diria... póstumos? Enfim, foram sobre como já cheguei de maneira rude, minha falta de delicadeza para com as pessoas que geraram comentários de como eu, supostamente, era metida. Por isso, cá está. Não sei se foi real, provavelmente tenho mais erros nos olhos de outros. Mas já explico, não sou tão rude e má quanto pareço, esta normalmente é só a primeira impressão.

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Seus apelidos já foram muitos. Muitos que ela nem mesmo conhecia. Muitos ofensivos, poucos delicados e gentis. É de se entender, sua personalidade forte não era bem vista pela maioria. Juliana era do tipo direta, nada delicada e um tanto quanto estúpida.

Dizia se focar no que lhe importava, que pena que pouco se focou em ser simpática. Focou-se em ser boa no que fazia e provavelmente já sabia que delicadeza não fazia parte de suas qualidades. Quando chegou naquele dia, já duas semanas atrasada, sentou-se ao fundo, esticou as pernas na carteira da frente, jogou seu casaco de lado e não fez questão de cumprimentar ninguém.

Ela estava ali por um motivo, um motivo único: Sair o mais rápido possível. Quando a aula começou, soltou sua língua como a de uma faca afiada e já debatendo temas polêmicos com pessoas que não conhecia. Discordando e não temendo seu ponto de vista incompreendido. Todos a olharam e cochicharam.

Seus cabelos curtos, roupas largadas e sua rigidez com as palavras fizeram sua imagem perfeita e irreal, mas ela não se importou por mudá-la. Saiu do jeito que entrou, pegando seu casaco, vestindo-o e descendo as escadas para evitar a zona do elevador. Conversou com poucos e sorriu para nenhum.

Durante a semana foi assim, mas, aos poucos, bem devagar, começou a conversar, um comentário mais amigável ali, uma piada nada bem feita acolá, uma risada mais solta. Se sua língua continuava afiada, seu bom senso começou a aparecer.

Ela possuía e - para não deixá-la já ao passado - possui um vício que não agrada a ninguém. Em uma nova sociedade onde as drogas mais usadas são aquelas não legalizadas e a falsa moralidade reina entre as bocas desenfreadas, o objeto que se mantinha constantemente dependurado em seus lábios faziam todos se distanciar ainda mais. E se ela possuia esse mal hábito muito antes de conhecer aquelas pessoas onde ela dividia o mesmo ambiente em dias úteis, ela também não fazia questão desta distância.

Enquanto pessoas reclamavam, ela ia para longe, sentava-se em outro canto, terminava seu cigarro e voltava depois de um tempo, até que ela sentisse que o cheiro tinha desaparecido parcialmente de seu hálito e de seu corpo. Pelo menos pela sua educação ninguém tinha o que reclamar.

Enquanto o ano ia passando, as pessoas iam se aproximando. Como da forma que se trata um cachorro não treinado, colocando primeiro a mão para ser cheirada, se aproximando vagarosamente e sorrindo cordialmente, acariciando os pelos e falando besteiras infantis. Mas ela não mordia, o medo era das palavras e dos ataques pseudo-intelectuais-baratos que ela costumava oferecer sem cobrar nada.

As melhoras foram poucas, mas quem a viu e a conheceu soube que o começo foi difícil e as palavras para estes se tornaram doces, pelo menos doces ao seu tom, aquele agridoce que alguns entendem, outros estranham.





2 comentários:

Estevão de Almeida disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Estevão de Almeida disse...

Essa ultima crônica ganhou um novo sabor, um novo tempero no uso das palavras, pelo jeito a sua narrativa muda ao sabor dos ventos de seu temperamento, mas esse novo sabor não consegue esconder um prazer escandaloso de ser quem é.
d'Um leitor a espera de novos ventos.