segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Insônia

Pela data hora da postagem pode ver que o título veio a calhar!
Bem... esse novo texto eu escrevi a menos de uma semana, é sobre uma experiencia minha elevada ao cupo do sentimentalismo e do sofrimento de uma mulher após o fim de um casamento. Obviamente nunca fui casada, com a graça de Deus, porém tive terminos de namoro que me deram insônia!

Espero que gostem! Beijos e abraços, tenham um ótimo fim de ano!


-- Insônia --


Carem não conseguia dormir a três semanas, eram cigarros noturnos empilhados nos cinco cinzeiros espalhados pela casa, xícaras de café empilhadas em sua cozinha, remédios para enxaqueca diários, sua saúde estava cada vez pior, tossia com freqüência, dormia no máximo três horas por dia, demorava horas para pegar no sono e sonhar com o que não queria, seu ex-marido.

Fazia três meses desde a separação, o primeiro mês fora difícil, chorava com freqüência, mas diferente do normal, choros de raiva, não de tristeza, a tristeza apareceu depois de duas semanas, quando reparou no que tinha realmente acontecido, que não tinha sido uma briga usual, que ele havia a trocado, era terrível, insuportável. Chorava no banho, chorava enquanto dormia, silenciosamente, ia ao trabalho de óculos escuros para evitar a piedade, raramente o tirava, dizia que estava com os olhos irritados e que a luminosidade a incomodava. Piedade é um sentimento horrível, pode não parecer para quem o transmite, mas para quem o recebe, é o pior sentimento de todos.

O segundo mês fora bem diferente, tão diferente que realmente não poderia ser verdade, era a liberdade, os sorrisos bobos, a chance de conhecer coisas novas, de mudar, aprimorar. Novo corte de cabelo, nova maquiagem, até seu escritório na agência tinha mudado. Um sentimento bom, mas passageiro. Levou só uma ligação para jogar tudo por água a baixo e voltar à estaca zero, aos óculos escuros.

Era seu marido, quer dizer, ex-marido, essa palavra havia sido evitada durante o mês inteiro, impedir sentimentos agora inevitáveis. Ele dizia que estava com saudades, que queria conversar, tomar um café, fumar uns cigarros, só para por a conversa em dia, provavelmente sua amante, aquela que destruíra seu casamento, havia o largado, como qualquer garotinha de vinte anos de idade nem um pouco pronta para relacionamentos reais.

Carem fez questão de não aceitar, inventou uma desculpa besta que nem mesmo ele cairia nela. Mas funcionou, ele tentou marcar outros dias, mas mais desculpas eram postas, não se sentia pronta para encará-lo, não sabia se isso lhe traria lembranças, lágrimas, sorrisos, não queria, nem devia, enfrentar isso tão cedo.

Sua teoria do término de namoro estava certo, ela soube isso por segundos, contatos e colegas que eram amigos dele, foi discreta, não quis parecer interessada. Estranhamente se alegrou, não porque quisesse correr atrás dele, mas por saber que o motivo pelo qual ele havia a largado o largou também, era algo como vingança, ótimo gosto na época.

O terceiro mês estava sendo pior que o primeiro, ela não chorava, seu estoque de lágrimas havia acabado, porém sonhava toda noite com ele, com seus toques, com seus beijos... Ela não podia sentir-se assim, não podia se enganar, pois depois de se cansar dela outra vez, outra menina de vinte e poucos anos apareceria e estragaria tudo mais uma vez. Sentiu-se tentada a ligá-lo, um retorno de todas as ligações que ele havia feito, mas o risco era grande.

Levou duas semanas daquele terceiro mês para ela resolver ligá-lo, conversaram pouco, até ele lhe informar que a garota que destruíra seu casamento havia voltado atrás, eles estavam de volta, juntos e felizes, enquanto ela estava sozinha e cada vez mais abalada, triste. Segurou o espanto, não ia dar este gosto ao seu ex-marido, disse-lhe falsamente a sua felicidade por ele, agradeceu-a e disse para saírem para comemorar... Carem negou.

Agora estava claro que há um mês atrás ele só queria conversar, ela estava se sentindo poderosa de mais ao pensar que ele queria algo além disso, foi o momento que parou de dormir. Parou de dormir para evitar sonhos, parou de dormir para evitar que o seu subconsciente falasse mais alto e a dominasse no momento de fragilidade. Enquanto se mantivesse acordada, poderia continuar controlando sua mente, mesmo que fosse inútil, agora usava óculos para esconder os seus olhos cansados graças a sua fragilidade constante.

2 comentários:

Sacaninha disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sacaninha disse...

muito interessante... a forma como você nos deixa ter conhecimento do que se passa na complexidade do personagem é muito peculiar. Gosto muito dos seus contos, me identifico com a maioria e vejo personagens reais nos quais não me encontro. A riqueza de detalhes do sentimentalismo da trama é bem aproveitada. Te invejo, garota! Meus parabéns!