quinta-feira, 24 de abril de 2008

Duas Doses e Trinta Tragadas

Olá a todos! Pois então, mesmo cansadíssima, destruída, morta, e em plena decomposição (que exagero!), venho aqui com algo novo para apresentar-lhes. Algo realmente depressivo, eu devia estar em plena raiva contra minha própria mente, mas infelizmente, ou felizmente, o conto não é ruim.

Então lhes apresento, provavelmente, a coisa mais depressiva que fiz nos últimos tempos!

Beijos e abraços,
Da autora.


--Duas Doses e Trinta Tragadas --


Antes bebia uma dose de wisky, com três pedras de gelo, elas eram contadas. Hoje ignoro as pedras de gelo, eu as contaria, se as colocasse em minha dose. Tinha a mania de girar as pedras de gelo com o meu dedo indicador, depois dava um gole, repetia isso cinco vezes, eu contava. Hoje em dia não conto mais, pois além de não haver pedras de gelo mais em meu copo, o wisky vai em um gole só.


Antes apreciava o álcool descendo em minha garganta, queimando com delicadeza em sua passagem, depois o refresco das pedras de gelo, apreciava. Hoje não aprecio mais, hoje sinto somente o álcool queimar minha garganta, arranhá-la como unhas de gato, entrar em meu organismo e ter a única sensação, algo como satisfação e desespero.


A cada gole, dava uma tragada em meu Marlboro, a cada mexida no gelo, mais uma tragada. Hoje meu Marlboro solta sua fumaça dentro de meu copo, quando tomo de um gole só aquela bebida amarelada, depois trago várias vezes, são dez vezes, eu conto, dez tragadas puxadas com um uma mistura, outra vez, de satisfação e desespero.


Depois de uma dose de wisky, andava até meu banheiro, vinte passos, eu contava, ligava o chuveiro e tomava um banho, quinze minutos, eu cronometrava, saia do banho e me vestia, eram sete peças de roupa e mais três jóias, não exatamente jóias, mas somente meu relógio de pulso, uma corrente com a imagem de Nossa Senhora e um anel.


Hoje eu durmo em meu sofá, me esqueço de tomar banho, somente quando acordo no meio da madrugada, exatamente às quatro da manhã, todas as noites, me levanto e dou meus vinte passos ao banheiro, quinze minutos no banho, duas peças de roupa, me deito novamente.


Hoje peguei minha arma, pus somente uma bala, dei vinte passos até minha poltrona, tomei desta vez, duas doses de wisky, sem gelo, fumei três cigarros, trinta tragadas, e olhei para a arma, exatamente a meia noite, deixarei essa arma sem somente uma bala.

2 comentários:

A. Flammen disse...

Sem uma bala, mas com um cartucho vazio.

Não achei tão depressivo.
Mas bem noir.
Visualizei tudo em preto azulado e branco, com uma névoa do cigarro sempre no ambiente..

Give us more!

Anônimo disse...

Não é propriamente depressivo, diria mais angustiante do que depressivo, algo soturno e inquietante...